Desde a internação de cinco pacientes no Hospital de Base por criptococose, popularmente conhecida como doença do pombo, a capital federal ficou em alerta para a disseminação do fungo. A letalidade da enfermidade no DF se assemelha a índices registrados no continente africano: chega a 40%, segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz. Aqui, quatro a cada 10 pacientes morrem depois de contaminados. A pesquisa estima que ocorrem, em média, 20 casos por ano no DF. Como o mal não é de notificação compulsória, ou seja, de registro obrigatório pela Secretaria de Saúde, os casos de adoecimento podem ser ainda mais volumosos.

Desde a internação de cinco pacientes no Hospital de Base por criptococose, popularmente conhecida como doença do pombo, a capital federal ficou em alerta para a disseminação do fungo. A letalidade da enfermidade no DF se assemelha a índices registrados no continente africano: chega a 40%, segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz. Aqui, quatro a cada 10 pacientes morrem depois de contaminados. A pesquisa estima que ocorrem, em média, 20 casos por ano no DF. Como o mal não é de notificação compulsória, ou seja, de registro obrigatório pela Secretaria de Saúde, os casos de adoecimento podem ser ainda mais volumosos.

O que chama a atenção dos pesquisadores da Fiocruz é a alta taxa de mortalidade numa cidade com condições de diagnóstico e tratamento satisfatórios: Brasília. O coordenador do Programa de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz, Vitor Laerte, destaca que a capital está distante de índices registrados em países desenvolvidos, onde a mortalidade atinge entre 20% e 30% dos doentes. “Ainda não há explicações para o fato de a taxa do DF ser elevada. Estamos estudando por que isso acontece”, resume Vitor. Em alguns lugares do Brasil, com menos estrutura de saúde, no Norte e no Nordeste, por exemplo, o índice chega a 65%. O mal causa meningite, complicações cerebrais e pneumonia. Duas pessoas continuam em tratamento no DF. O Correio revelou as internações na edição de 22 de fevereiro.

 

A Secretaria de Saúde não revela as idades e onde os pacientes moram. O pesquisador da Fiocruz explica que, se for constatado que os casos são relacionados (por exemplo, se os doentes moram na mesma casa ou trabalham no mesmo local), isso indica um surto. O fungo acomete o trato respiratório e o sistema nervoso central. Tosse com muco ou sangue, febre, suores noturnos, emagrecimento, fraqueza, dor de cabeça, náuseas, vômitos, rigidez da nuca e fotofobia são os principais sintomas. Dependendo da região do cérebro atingida, pode haver diminuição no nível de consciência, convulsões, cegueira e surdez. A contaminação ocorre por inalação.

 

Apesar de a doença ter como marca a transmissão pelas fezes do pombo, outros fatores colaboram para o contágio. “O fungo vive no meio ambiente, sobretudo em madeira em decomposição. Ele também foi encontrado na poeira domiciliar e em viveiros de pássaros domésticos. Não adianta eliminar o pombo, pois o fungo continuaria existindo. Há pessoas que desenvolvem a doença e outras, não, ainda estamos estudando isso. Inalamos fungos o tempo inteiro”, pondera. Apesar disso, desde as internações, os pedidos de dedetização contra as aves subiram em torno de 25%, segundo consulta feita pela reportagem em três empresas que disponibilizam o serviço no DF.

 

 

Na avaliação da coordenadora de Infectologia da Secretaria de Saúde, Eliana Bicudo, as fezes de pombo são o principal fator de risco, por isso, ela alerta para a importância do controle da população dessas aves, sobretudo no centro das grandes cidades. “Em algumas quadras do Plano Piloto, pombos habitam o parapeito dos apartamentos. Já tive pacientes que tiveram a doença só por abrir a janela, já que as fezes estavam presentes”, alerta. “A quantidade de pombos no DF é relacionada à presença de lixo. As pessoas alimentam essas aves. Esse convívio próximo é arriscado”, aconselha. A Secretaria de Saúde não comentou os dados da pesquisa da Fiocruz.

 

Os pesquisadores da Fiocruz contabilizaram 56 infecções no DF em cinco anos. A maior parcela dos casos é de pacientes que são soropositivos. Isso acontece porque a criptococose é uma doença oportunista, que se beneficia de falhas no sistema imunológico. Apesar de a ciência ainda não saber muito sobre o mal, há uma certeza: quanto mais cedo for tratado, melhor é o prognóstico. “Detectar o fungo no sangue antes que o paciente desenvolva a doença possibilita o tratamento”, destaca Vitor. Há um mês, a auxiliar de serviços gerais Valdinéia Almeida Castro, 39 anos, está internada lutando contra o fungo. O leitor conheceu a história dela na edição de 22 de fevereiro. A moradora de Taguatinga fez uma cirurgia na cabeça para drenar líquido cerebral contaminado pelo fungo. Atualmente, usa cateter. “Ela está reagindo bem ao tratamento e se recupera bem da cirurgia. Está consciente e não sente mais dores”, conta a manicure Valquiria Almeida Castro, 43, irmã de Valdinéia. Não há previsão para alta do Hospital de Base e a equipe médica ainda não avaliou se ela terá sequelas.

 

O que fazer com a ave?

A presença de pombos nas cidades é considerada praga urbana. Contudo, exterminar a ave não é a solução, além de ser crime ambiental. Na Praça dos Três Poderes, um pombal abriga o bicho. É possível observar fezes do animal e restos de milho e arroz. Ele habita ainda parapeitos de apartamentos e locais com grande concentração de lixo. Para o diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, José David Brito, a convivência é arriscada. “O pombo não tem predador na cidade, não é natural. O fungo causa grande letalidade nos que adoecem”, explica. As paulistas Helen Priscila dos Santos, 32, e Luisa Martins, 47, notaram que, na capital federal, as aves existem em grande quantidade. “Vi que elas sempre estão por perto. Isso é arriscado. Na zona leste de São Paulo, onde moro, não há tantas”, conta a assistente social Helen.

 

A colega Luisa concorda. “É um risco para a saúde pública, não só pela criptococose, mas por outros males. Algo deve ser feito”, pondera. O protocolo do Ministério da Saúde destaca como medida preventiva o controle da população de pombos. A Secretaria de Saúde recomenda que, em locais onde há muitos pássaros do tipo, os moradores solicitem inspeção da Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival), pelo telefone 160. A Vigilância Ambiental não captura ou elimina esses animais, porém, nas inspeções, identifica a origem do foco e orienta as medidas a serem adotadas. (fonte: pragas e eventos)

 

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