Com a intensificação da proliferação de mosquitos, trazendo consigo a ameaça dos vírus do Oeste do Nilo e da zika, há uma cidade de Long Island adotando uma abordagem pouco ortodoxa: morcegos.

 

 

Com a intensificação da proliferação de mosquitos, trazendo consigo a ameaça dos vírus do Oeste do Nilo e da zika, há uma cidade de Long Island adotando uma abordagem pouco ortodoxa: morcegos.

A cidade, North Hempstead, aprovou a construção de caixas que funcionam como casas de morcegos em vários parques para atrai-los para a região.

 

“Morcegos conseguem comer até mil mosquitos por hora”, diz Judi Bosworth, supervisora municipal. “Isso é extraordinário. Um pesticida não consegue isso.”

 

A prefeitura começou a incentivar a construção e instalação de casas de morcego nos parques da cidade em 2007 para conter o uso de pesticidas, e tem acrescentado mais algumas a cada ano desde então.

 

“Temos um maior sentimento de urgência em querer nos certificar de que estamos controlando a população de mosquitos da melhor forma possível”, disse Bosworth a respeito dos vírus. “As casas de morcegos sozinhas não são a resposta, mas pelo menos caminham na direção de uma solução que não seja danosa ao meio ambiente.”

 

Ao longo dos anos, grupos de escoteiros ajudaram construindo algumas das casas. Este ano, Yianni Biniaris, 16, de Manhasset, NY, espera que ao construir, consertar e substituir casas de morcegos no Jardim Botânico de Clark ele consiga chegar ao nível de Escoteiro Águia. Seu projeto foi aprovado por North Hempstead, mas ainda precisa passar pela associação de escotismo.

 

“Usar as casas de morcegos é um jeito mais amigável de se livrar dos mosquitos, ao mesmo tempo em que se salva a população de morcegos”, disse Yianni no mês passado no jardim botânico, que abriga cerca de 20 das casas.

 

Sua mãe, Stella Biniaris, disse que a intenção de remover morcegos de trás das persianas de sua casa foi o que levou seu filho para o projeto.

 

“Fomos tentar nos livrar deles e meu marido disse: ‘Vocês não podem se livrar deles! Vocês não entendem, nós precisamos deles!”, lembra Biniaris.

 

Os mitos que cercam os morcegos por muito tempo moldaram a percepção que o público tem dessas criaturas noturnas.

 

“Eu cresci ouvindo aquelas crendices populares, de que o morcego vai atacar você na cabeça e ficar preso em seu cabelo”, disse Bosworth, a supervisora municipal. “Os morcegos realmente foram difamados.”

 

E os morcegos de Long Island não são do tipo que chupam sangue. O Estado de Nova York abriga nove espécies de morcegos, e nenhuma delas é de morcegos vampiros, de acordo com a Dra. Liliana M. Dávalos, uma professora do departamento de ecologia e evolução da Universidade de Stony Brook.

 

E menos de 0,5% de todos os morcegos na América do Norte carregam o vírus da raiva, de acordo com a Humane Society dos Estados Unidos.

 

O “extenuante exercício aeróbico” do voo, disse Dávalos, faz com que os morcegos precisem estocar calorias, buscando a presa mais calórica disponível. Mosquitos não são necessariamente os mais calóricos —eles estão entre os menos calóricos dessa escala— mas os morcegos vão comer os que estiverem em seu caminho de qualquer forma, ela disse.

 

O Aedes albopictus, conhecido como o mosquito Tigre Asiático, é encontrado em Long Island e pode transmitir a zika em um contexto laboratorial, disse a Dra. Susan Donelan, uma especialista em doenças infecciosas na Stony Brook, que é parte do sistema da Universidade de Nova York. Até agora não houve registros de casos de transmissão local da doença, segundo ela.

 

Para que a zika chegue até Long Island, uma pessoa infectada provavelmente teria que ir até a região e ser picada por um mosquito que possa transmiti-la, disse Donelan.

 

“Mosquitos não viajam por longas distâncias, mas sim as pessoas”, ela disse. “Não é como se os mosquitos do Brasil estivessem voando até aqui e nos infectando. São as pessoas que estão vindo dessas regiões.”

 

O vírus do Oeste do Nilo, que também é disseminado por mosquitos, apareceu nos Estados Unidos em 1999, de acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA. Até outubro, 490 casos de Oeste do Nilo e 37 mortes resultantes dele foram registrados em Nova York desde 2000, de acordo com o Departamento de Saúde do Estado.

 

Então os morcegos, com seu apetite por mosquitos, são vizinhos muito bem-vindos. “Esses morcegos nos ajudaram por tantos anos, devemos muito a eles”, disse John Darcy, vice-comissário de parques de North Hempstead.

 

Mas o quanto as casas de morcegos realmente ajudam?

 

“A eficácia das caixas de morcegos é difícil de quantificar”, diz Kevin Braun, especialista em controle ambiental da cidade. “Mas sabemos que os morcegos comem insetos voadores, inclusive mosquitos, então não é absurdo dizer que mais caixas de morcegos equivalem a mais morcegos e menos mosquitos.”

 

Eric Powers, um biólogo que ministra oficinas sobre animais selvagens, disse: “Nós sabemos que isso funciona por causa dos vários experimentos em todo o país onde há dessas caixas instaladas e morcegos ocupados comendo os insetos.”

 

No Jardim Botânico de Clark, no mês passado, Powers disse que em um mundo ideal os morcegos viveriam em árvores mortas descascando, ou em celeiros antigos.

 

“Mas aqui em Long Island, a população é tão densa que, assim que uma árvore é identificada como doente ou velha, ela é cortada e removida”, ele disse. “Nós eliminamos todos os lugares onde eles gostariam de ficar.”

Fonte: uol